UFSCar coordena projeto de produção de madeira legal com apoio da FAI UFSCar e do BNDES

QUINTA-FEIRA, 9 DE OUTUBRO DE 2025 UFSCar coordena projeto de produção de madeira legal com apoio da FAI UFSCar e do BNDES

A UFSCar é uma das instituições que estão coordenando o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Silvicultura de Espécies Nativas (PPD&SEN), com o objetivo de desenvolver inovações em silvicultura de espécies nativas plantadas. A iniciativa busca impulsionar o país para se tornar protagonista no mercado internacional de madeira tropical, garantindo uma produção estável e sustentável a longo prazo, reflorestando áreas degradadas e proporcionando benefícios econômicos e sociais à população.

O projeto foi proposto pelo Conselho Diretivo do programa, lançado em 2021 pelo movimento “Coalizão Brasil”, composto por mais de 400 representantes do setor privado, setor financeiro, academia e sociedade civil e, além da UFSCar, conta com a coordenação da Embrapa.

A silvicultura é a ciência dedicada ao cultivo, manejo e conservação de florestas e áreas arborizadas. Ela abrange desde o planejamento e o plantio até a colheita e o processamento de produtos florestais, como madeira e celulose. A finalidade do projeto é desenvolver e disseminar inovações tecnológicas, contribuindo para que a silvicultura de espécies nativas ganhe escala no Brasil, a exemplo do que ocorreu com a silvicultura de eucalipto. A expectativa é de que o país possa ocupar uma posição de liderança na produção sustentável de madeira tropical.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou apoio financeiro de R$ 24,9 milhões, recursos provenientes do Fundo Tecnológico do Banco (BNDES Funtec). O aporte do BNDES responde por 80,8% dos recursos demandados. Com as contrapartidas, o volume total dos investimentos chega a R$ 30,8 milhões. A iniciativa conta, ainda, com suporte administrativo, financeiro e logístico da Fundação de Apoio Institucional ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FAI UFSCar).

Segundo a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello, atualmente, no Brasil, a madeira tropical provém principalmente de florestas naturais já existentes e o crescimento da silvicultura de espécies nativas pode se somar, por exemplo, ao que já é obtido com manejo florestal sustentável em concessões de florestas nacionais.

“Com isso, promovemos a conservação da biodiversidade, o sequestro de carbono e a geração de emprego e renda. Mas esse crescimento só é possível com aplicação do conhecimento e da tecnologia, essenciais para atrair novos investimentos e expandir o mercado para atender parte significativa da demanda global. O objetivo é criar um setor pujante, assim como fizemos com aviação, energias renováveis e com o próprio setor de silvicultura, com base em pinus e eucalipto, onde fomos decisivos para o Brasil despontar como um dos líderes mundiais”, afirmou a diretora.

Pesquisas na Amazônia e na Mata Atlântica

Cinco temas serão trabalhados: sementes e mudas, melhoramento genético, propagação vegetativa, manejo florestal e tecnologia da madeira. O projeto abrange pesquisas com 30 espécies nativas prioritárias nos biomas Amazônia e Mata Atlântica. As atividades serão desenvolvidas por meio de subprojetos, nos quais instituições de pesquisa atuarão como parceiros executores, que ainda poderão contar com a participação de empresas privadas, as quais responderão por contrapartidas financeiras e não financeiras.

Os plantios das espécies serão prioritariamente mistos (várias espécies), com colheitas em diferentes escalas temporais, sem implicar necessariamente em corte total das árvores. As atividades ocorrerão em 20 sítios em áreas de universidades, centros de pesquisa e empresas parceiras, dos quais 14 disponibilizarão um total aproximado de 160 hectares para o plantio das espécies selecionadas. Outros seis, onde já existem plantios com idades que variam entre 15 e 45 anos, serão polos de referência.

O projeto tem duração de 5 anos, mas é encarado como uma primeira fase de um programa mais amplo que pode chegar a 30 anos. Devido à sua abrangência de conhecimento e aplicação de muitas espécies, a expectativa é que o projeto apresente diversos resultados, a exemplo de clones melhorados de espécies madeireiras, protocolos de tratamento de sementes, arranjos de espécies melhor adaptados às regiões e tecnologias para produtos de madeira de pequena dimensão. 

Ao propor o projeto, a Coalizão Brasil indicou a UFSCar para desenvolver as ações na Mata Atlântica pela diversidade e experiência de seu corpo técnico. A coordenação das atividades no bioma será dos professores Fatima Conceição Marquez Piña-Rodrigues, do Departamento de Ciências Ambientais do Campus Sorocaba, e Ricardo Augusto Gorne Viani, do Departamento de Biotecnologia e Produção Vegetal e Animal do Campus Araras.

Nós iremos atuar com pesquisadores dos quatro campi da UFSCar, com experiência na região da Mata Atlântica e nas parcerias com vários órgãos governamentais e empresas, não somente no Estado de São Paulo, mas em outras regiões do país. A nossa iniciativa visa mudar um paradigma: deixaremos de cortar para plantar, estimularemos o plantio sustentável em detrimento da extração ilegal”, ressalta Fatima.

 Na Amazônia, o programa será conduzido pela Embrapa Amazônia Oriental, sob responsabilidade da pesquisadora Noemi Leão, e pela Embrapa Florestas, sob responsabilidade do pesquisador Silvio Brienza Junior.

 “A Embrapa foi a escolhida para atuar na Amazônia pelo histórico de pesquisas realizadas neste bioma e pela permeabilidade na região amazônica, já que possui unidades em todos os estados cobertos pela floresta”, explica o pesquisador. 

Benefícios ecológicos e comerciais 

As madeiras das espécies de árvores nativas do Brasil estão entre as mais valiosas do mundo e são adequadas para diversos usos e setores. Por esta razão, elas são alvo da exploração ilegal. Para mudar esse cenário, é preciso ampliar o conhecimento envolvendo a silvicultura de árvores nativas, que ainda é disperso e não sistematizado no Brasil.

"O país tem 50 milhões de hectares de áreas de pastagens degradadas com baixa aptidão agrícola. Elas poderiam ser beneficiadas por atividades de reflorestamento para a produção de madeira. Isso corresponde a cerca de metade da área necessária para atender à crescente demanda global por madeira até 2050. Hoje, apesar dessa vantagem competitiva, o Brasil responde por menos de 10% da produção mundial de madeira tropical", explicou Tereza Campello.

 O projeto da UFSCar e da Embrapa está alinhado aos esforços do BNDES de promoção da bioeconomia. Além disso, a silvicultura de árvores nativas é vista como uma atividade que pode contribuir com a restauração ecológica produtiva em todos os biomas, inclusive no Arco da Restauração da Amazônia, que está no centro da estratégia ambiental do Banco. A meta é recuperar 6 milhões de hectares até 2030, alcançando 24 milhões de hectares até 2050, mudando assim a paisagem do que hoje é conhecido como Arco do Desmatamento, área fortemente degradada que vai do oeste do Maranhão e sul do Pará em direção a oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre. Esse esforço vai requerer iniciativas variadas e parcerias entre setores nacionais e internacionais, privados e públicos, para garantir os investimentos necessários.

Foto: Prof.ª Fatima Conceição Marquez Piña-Rodrigues